8 de agosto de 2011

Bosnia-Herzegovina – it’s complicated...

A Bósnia-Herzegovina (BiH) é um país complicado!
Confluem no seu território 3 etnias cuja característica mais diferenciada é a religião. Ou seja, a BiH é composta por 3 povos constituintes: 45% Bosniaks (muçulmanos da BiH), 30% Sérvios (ortodoxos cristãos), 15% Croatas (católicos cristãos) e 10% de outros, em números redondos.

Na era pós-Tito (pós 1980), depois de colapsado o comunismo presente na região desde a 2ª Guerra Mundial, os líderes ultranacionalistas Milosevic (Sérvia) e Tudman (Croácia) planeavam dividir o território da BiH entre eles – metade para a Croácia e metade para a, na altura ainda, Jugoslávia/Sérvia. Mas estes planos não incluíam as opiniões do maior grupo étnico da BiH, os Bosniaks.
Assim, após um referendo em que 99% da população bosniak votou a favor, e sob a orientação do presidente Izetbegovic, a BiH declarou independência em 1991.
Isto trouxe grande instabilidade social uma vez que cerca de 30% da população (de etnia sérvia) não era a favor da separação da Jugoslávia.
A instabilidade social transformou-se rapidamente numa guerra civil.

Durante os anos de 1992-1995, as forças sérvio-bósnias apoiadas por Milosevic e pelo seu Exército Popular Jugoslavo atacaram a BiH de modo a tentarem assegurar o território com maior percentagem de habitantes sérvio-bósnios.
Isto levou aos episódios de “limpeza étnica” da população Bosniak, por todo o território leste da BiH, atingindo o seu expoente máximo no massacre de Srebrenica, em 1995.


Também a Croácia, com a divisão do território da BiH em mente tentou invadi-la junto à sua fronteira, onde existe a maior percentagem de população de etnia croata (católicos). Estes confrontos foram responsáveis pelo terror espalhado em Mostar e pela destruição da sua ponte histórica em 1993.

A BiH estava a ser atacada por todos os lados.
Foi várias vezes denunciado pelo presidente Izetbegovic, o “lavar de mãos” dos países ocidentais e o falhanço total em tentar conter a agressão sérvia.
Esta é, no geral, a consciência comum presente no país. Que os países ocidentais viraram a cara e as forças da NATO, vieram tarde e a más horas.
Assim, recorreram ao mundo árabe, nomeadamente ao Irão, para apoio.. Estes enviaram armas e os seus guerreiros sagrados mujahedin
Esta decisão não foi nada bem vista pela Europa pois começaram a surgir manchetes alarmantes: “Bósnia: pólo europeu de extremistas islâmicos!”
Uma bola de neve.

O que é certo é que Sarajevo esteve cercada 4 anos, antes das forças internacionais da NATO intervirem.
A formação da Federação Bósnia-Herzegovina (bosniaks e bósnio-croatas finalmente aliados) e os bombardeamentos da NATO fizeram com que a Republica Srpska recuasse.


A paz foi assinada no final de 1995, no acordo de Daytona, moderado pelos EUA.
Surgiram 2 entidades autónomas dentro do mesmo país: a Federação da Bósnia e Herzegovina e a Republica Srpska. Cada entidade tem a sua capital e as fronteiras estão perfeitamente definidas.
O país é uma républica com a presidência tripartida e cada etnia tem o seu representante: 1 bosniak, 1 croata, 1 sérvio. O cargo de presidente vai rodando pelos 3 ao longo dos anos de cada mandato...

Vive-se uma paz condicionada.
Porque quem vive aqui, sabe muito bem o que custa a guerra. 

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